Ballet, profissão curta, ensino longo

Quem assiste a um espetáculo de ballet clássico tem a nítida sensação de que as bailarinas não têm peso, tal a graça e a leveza das performances. Mas para gerar este efeito é preciso muito sacrifício e determinação, desde longos preparativos para decorar e ensaiar a coreografia até conseqüências diretas, como calejamento nos dedos dos pés, dores no corpo e, às vezes, até algumas lesões mais sérias.
Convidamos Nathália Lisiê, bailarina de clássico, jazz e contemporâneo, a contar um pouco sobre os bastidores e facetas bem reais deste mundo delicado porém complexo que é o ballet clássico. Acompanhe.


O ballet clássico é uma arte delicada, porém complexa. Por esse motivo, sua técnica deve ser muito bem trabalhada pelo bailarino desde o início de sua carreira; portanto, quanto mais cedo iniciar, melhor. A idade ideal para o início no clássico é de oito anos, mas não importa muito, desde que se tenha força de vontade e persistência no aprendizado, tanto é que muitos bailarinos (homens e mulheres) iniciaram a carreira mais tarde e obtiveram pleno sucesso.
Um fator que também influencia muito no desempenho do bailarino no clássico é o interesse espontâneo, fazer aulas e dançar porque gosta e sente-se bem em fazer isso e não por imposições exteriores, como mães que procedem assim com suas filhas, por exemplo.
Cada escola de ballet tem um método de profissionalização durante o aprendizado do bailarino. Atualmente, esses métodos são cinco: Sistema Checchetti (criado pelo italiano Enrico Checchetti e conhecido também como escola italiana, exige força e virtuosidade em passos e giros mais complexos), Sistema Francês (criado por Pierre Beauchamp, é provavelmente o método mais antigo e devido a ele criou-se a técnica clássica), Royal Academy of Dance (também conhecido como método inglês, sua técnica é elaborada de forma bem dividida e trabalha bastante as linhas do corpo e das posições, tendo cuidado especial com crianças e jovens), Sistema Vaganova (criado pela russa Agrippina Vaganova e também conhecido como ballet russo, reúne a técnica francesa e inglesa, sofrendo com pequenas modificações) e Ballet Cubano (a metodologia mais recente, é expansivo e trabalha muito com allegros, batteries e giros). Os métodos mais utilizados no Brasil são Royal Academy of Dance, Sistema Vaganova e Ballet Cubano.
Em suma, o ballet é uma arte de aprendizado longo e contínuo, portanto muitas vezes de carreira curta. É como disse a bailarina Eugênia Fedeoróva:

"Dança é uma arte muito demorada para dar resultado, porque ela depende de nossa condição física. O ballet precisa de crianças. Sem dúvida, os bailarinos precisam começar ainda crianças, porque a dança tem que ser uma segunda natureza. Elas devem dançar como andam, respiram, como vivem, como falam, como dormem. Devem dançar naturalmente e isso só acontece quando a dança cresce junto com o corpo. A dança é uma profissão curta, e de ensino longo. Além disso, às vezes, a produção não é boa, mesmo para uma pessoa adulta dotada, porque recompor o condicionamento físico tem uma série de obstáculos. Um bom artista é um ser escolhido. A vida é encantada e arte tem encanto duplo."

Com isso, é importante que todo o bailarino desfrute ao máximo e com cuidado o período de aprendizado para que possa ter um maior proveito de sua carreira no futuro.

Conexões com as artes cênicas - O ballet é uma arte que conta histórias de diversos tipos, desde romances, até comédias. Os espetáculos que contam as histórias mais marcantes são chamados "ballet de repertório" e alguns exemplos deste gênero são Don Quixote, Lados dos Cisnes, Petrouchka, Giselle, Coppélia, Sonho de Uma Noite de Verão, Sylvia, entre muitos outros. É uma arte que tem relação muito grande com as artes cênicas pois, além de transmitir emoções com a expressão corporal, também o faz através da expressão facial. Entretanto, não é apenas o clássico que se relaciona com as artes cênicas, mas outros estilos de dança também, como o jazz e o contemporâneo, por exemplo.
Mas, para que isso tudo seja realizado com algum sucesso, é necessário ensaios e aulas frequentes. Há locais em que os bailarinos chegam a ter oito horas por dia de aulas e ensaios durante toda a semana e essas aulas englobam tanto prática como teoria.
Muitas pessoas se perguntam como conseguimos decorar as coreografias, pois acham complicado, mas na verdade não há tantas dificuldades pois, depois que uma sequência de passos é passada, ensaiamos até que esteja fixada e, depois, outras sequências são passadas. Só depois de tudo memorizado é que ensaiamos para aperfeiçoar a coreografia. Com isso, vêm as consequências que são o calejamento (principalmente dos dedos dos pés), as dores no corpo e, às vezes, até algumas lesões mais sérias, mas qualquer bailarino está ciente disso tudo que pode vir a ocorrer.
A hora de dança em si tem toda uma "sequência" que é o nervosismo antes de entrar em palco (dá um frio na barriga, as pernas ficam bambas, o coração dispara e parece que tudo o que aprendemos foi esquecido), o momento em que entramos no palco (onde parece que saímos do mundo da realidade e entramos em um mundo totalmente diferente), o momento que estamos dançando (onde saímos de nós mesmos e somos os próprios personagens) e o momento em que saímos do palco satisfeitos, por ter dado tudo certo, ou insatisfeitos, por não ter saído tudo como queríamos.


Nathália Lisiê
Bailarina de clássico, jazz e contemporâneo
nat_loveballet@hotmail.com
VALINHOS/SP


Fotos: Arquivo pessoal

7 comentários:

  1. oi queridaaa...tá um luxo esse blog!!!


    bjs

    Gazel

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  2. Brigada Martha! Mas o luxo do blog devemos ao Ricardo Martins! Se não fosse por ele, não teria tido essa oportunidade!!!! xD

    B-jokssss e vlw pelo comentário!!! ;~)

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  3. Realmente,a vida de uma bailarina não é nada fácil,mas não há alegria maior do que o dia do espetáculo.Perfeita a descrição feita pelo texto :" A hora de dança em si tem toda uma "sequência" que é o nervosismo antes de entrar em palco (dá um frio na barriga, as pernas ficam bambas, o coração dispara e parece que tudo o que aprendemos foi esquecido), o momento em que entramos no palco (onde parece que saímos do mundo da realidade e entramos em um mundo totalmente diferente), o momento que estamos dançando (onde saímos de nós mesmos e somos os próprios personagens) e o momento em que saímos do palco satisfeitos, por ter dado tudo certo, ou insatisfeitos, por não ter saído tudo como queríamos."

    Adorei.Parabéns pelo blog e Lisiê,parabéns pela dedicação,com certeza,já é uma grande bailarina.

    Um grande abraço.

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  4. Obrigada, fico muito feliz q tenha gostado e agradeço pela parabenização!!!! xD

    B-joksssss!!!!!

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  5. ficou show de bola eu tambem ja fui balarina amei bjs

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  6. Muito obrigada, fico feliz por terem gostado da matéria! ^^

    B-joksss!!!!
    Nathália Lisiê

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