Dança tribal: fusão, mutação, evolução...

Fenômeno irradiante mundial, a dança tribal reúne em alquimia as influências de várias vertentes étnicas, artísticas ou ritualísticas, como a africana, a indiana e a cigana. Integrante do grupo de Karina Iman, bailarina de dança oriental egípcia desde 1998, Daiane Ribeiro encontrou no tribal o que completaria sua expressão. Ela afirma que o estilo funciona como o ponto de mutação da dança do ventre, dissolvendo e transcendendo seu aspecto caracterizadamente sensual e provocativo, e absorvendo muito mais o artístico, o profissional, o espiritual e o emocional. "É como uma ascensão em termos energéticos que se alinha também ao pensamento e a intenção", opina. "Se sua vontade é mostrar sua gratidão ou contar uma história, se é demonstrar poder ou emoção, ou apenas ilustrar a música com a habilidade corporal que possui, a escolha é sua".

O que é a verdadeira dança tribal? É toda dança étnica e primitiva que podemos encontrar em diversas culturas do mundo. São manifestações artísticas ou ritualísticas em forma de dança, tal como a africana, a indiana, a cigana. Porém, a nomenclatura que empregamos atualmente como dança tribal foi difundida como um novo estilo de dança no qual podemos usar fusões entre várias danças étnicas, tendo uma delas como base principal. Surgiu nos EUA como ATS (american tribal style) e vem se espalhando pelo mundo inteiro abrindo espaço para infinitas posibilidades de criação. Ela se tornou uma dança muito pessoal dentro de cada grupo, pois cada bailarina enfatiza aquilo que acha mais importante em sua expressão.
O tribal, ao mesmo tempo que disciplina, não limita a criatividade e transforma cada coreografia numa peça única. Os detalhes, as transições, os momentos tranqüilos ou impactantes, distribuídos dentro de uma composição musical, prendem a atenção de quem assiste. A interação e a identificação entre público e bailarino é imensa. O figurino não visa o luxo, traz elementos rústicos que tem muito mais a ver com nossa situação atual e nossa vontade de resgatar o respeito à natureza.
A dança egípcia é emocional, é festiva, fala muito de amor e precisa de muita habilidade, espontaneidade, é um trabalho diferente. Com o Tribal, acentuou a riqueza do detalhe, da postura, da limpeza e definição, mesmo com os movimentos mais básicos. As pessoas conseguem ver a dança toda com clareza e absorvem toda a intenção de força e espiritualidade. A Dança Tribal traz uma conexão com as raízes, a força e a espiritualidade. Pode ter ligação com a natureza, com nosso tempo, com o caos ou com a busca pelo sagrado.
Apesar da dança oferecer diversas possibilidades de criação, ainda assim é importante usarmos sempre o bom senso e a pesquisa para sermos coerentes com a realidade e o público. Não vamos misturar etnias de forma irrelevante, cada elemento cultural deve ser utilizado com critério, o público reconhece o que é bom e o que se torna meramente "capitalista" ou "descartável".

A dança do ventre, uma das raízes utilizadas para as fusões, tem se vinculado muito ao sensual, ao provocativo, quando na realidade, pra quem estuda há mais tempo, esse aspecto se dissolve e transcende, perdendo grande parte deste caráter e absorvendo muito mais o artístico, o profissional, o espiritual e o emocional. É como uma ascensão em termos energéticos que se alinha também ao pensamento e a intenção. Pois a Dança Tribal é o ponto de mutação da Dança do Ventre. Ela não enfatiza o luxo nem busca estereótipos, ela dá a liberdade que precisamos para transmitir a intenção que colocamos ao dançar. Se sua vontade é mostrar sua gratidão ou contar uma história, se é demonstrar poder ou emoção, ou apenas ilustrar a música com a habilidade corporal que possui, a escolha é sua.

Com muito empenho, muitas bailarinas têm conseguido transmitir essa "escala evolutiva" ao longo do seu trabalho, inspirando e esclarecendo o maior propósito de uma dança feminina: revelar a sua verdadeira beleza em arte através do movimento em música. A dança por si só já realça a sensualidade feminina naturalmente, não há necessidade de enfatizarmos ainda mais esse poder. Com a tribal isso também pode vir a acontecer no momento em que perdermos a razão e utilizarmos seus movimentos com figurinos e expressões inadequados.
A dança tribal é uma maravilhosa chance que temos de mostrar que uma mulher que dança não representa sempre aquela que seduz sexualmente. Ela representa a mulher que sabe a hora certa de falar e de agir, a mulher que conhece sua força e suas aptidões, a mulher que trabalha e estuda, a mulher que protege e nutre, mas sabe o limite de tudo isso para cuidar de si mesma.


Daiane Ribeiro
Bailarina de dança oriental egípcia desde 1998. Encontrou no estilo tribal o que completaria sua expressão. Integrante do grupo de Karina Iman desde 2001, estudou também com Lulu Sabongi, Carlla Sillveira e Hadia. Participou de várias feiras e grandes eventos, tais como Porto Alegre em Dança, Feira Harém, Festivais de Itajaí e Mercosul, conquistando posições de destaque em categorias solo e grupo.
naimah@ig.com.br
vídeo do grupo: http://www.youtube.com/watch?v=X6oTHY7G738&feature=related
PORTO ALEGRE/RS

Fotos: Arquivo pessoal

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