Dança ritual: devoção, festa e cura

Música é orgânica. Ou seja, um corpo sonoro e dançante altera profundamente nossa consciência, chegando a modificar a forma como experimentamos o tempo e o espaço, gerando círculos concêntricos capazes de alterar a realidade.
Os povos antigos perceberam que, se a partir de um único corpo saíam ondas de energias circulares, então dançar no conjunto uníssono de corpos abriria possibilidades ainda maiores de conexão com as forças da natureza. Dançar nesta e noutra realidade. Dançar assim é a magia das danças rituais, conforme relata a focalizadora Sabrina Alves, mestranda em Ciência da Religião, docente em Eco-espiritualidade e coordenadora do "Clã dos Ciclos Sagrados", trabalho focado na restituição da sacralidade eco-feminina.


Dança da Águia; Dança do Sol; Dança dos Fantasmas; Dança das Iyami Òsòròngà... o êxtase das Bacantes de Dionísio... Aruanã... Há no balançar do corpo a vibração de milhares de ondas de energia...
Como instrumento de cura, ritual e louvor, a utilização do corpo verifica-se no mundo todo, pois sistematizar o "balançar" do corpo em dança cria a oportunidade de reestruturar a consciência abrindo as portas para estar "entre mundos", ou em estado alterado.
Os movimentos são aparentemente desconexos, como o ar. E, embora seja uma forma muito milenar de troca física e psíquica, seu conhecimento vem da ação do inconsciente primitivo e coletivo no indivíduo sabendo-se servir de seu corpo, utilizando-o como instrumento.
Os povos antigos logo perceberam que, se a partir de um único corpo saíam ondas de energias circulares e esféricas, então dançar no conjunto uníssono de corpos abriria possibilidades ainda maiores de conexão com as forças da natureza.

Dançam nesta e noutra realidade. Dançam em ritmo de festa, em ritmo devocional, em ritmo de cura, de lamento e pedidos. No pensamento arcaico, os movimentos refletiam a observação dos animais, dançavam e caminhavam em círculos, pois pressentiam a dança dos dias e noites, se rendiam à ação cíclica dos Deuses e, assim, a dança sagrada fazia do dançarino, o elo terra e céu.

Dançar encoraja a hiperventilação, aumenta a produção de adrenalina e provoca uma acentuada diminuição dos níveis de glicose no sangue. Falar que a Dança Sagrada leva o corpo e a consciência a um estado alterado parece necessitar de certa evidência. Fisiologicamente estimula o cérebro a liberar endorfinas, o grupo de proteínas com poderosas propriedades analgésicas, que criam compostos antialérgicos semelhantes aos opiáceos. Assim, as técnicas que levam ao transe deflagram uma euforia induzida quimicamente, até mesmo na ausência de drogas que alterem a mente.
Em 1973, uma equipe de pesquisadores de Johns Hopkins School of Medicine descobriu que o cérebro humano contém receptores opiáceos especiais. Depois, outros cientistas isolaram um sistema de endorfinas e encefalinas localizado em áreas do cérebro conectadas às emoções. A dança e o tambor produzem opiáceos endógenos. Isso se deve à combinação de um exercício rítmico prolongado, de um exercício aeróbico exaustivo e de um exercício de alta intensidade que ativa o sistema opiáceo central, liberando o peptídio. Essa seria a explicação cientifica, mas na verdade os movimentos impelidos pela música permitem as mulheres e homens de medicina, e a todos que buscam a cura por meio deste processo, penetrar em mundos espirituais repletos de imagens cósmicas culturalmente apropriadas.
Durante as performances, sejam em rituais na comunidade ou em um momento criado para a cura de outro indivíduo, os participantes podem bater os pés em um ritmo, palmas em outro e cantar sílabas em um terceiro. Na realidade, a música é orgânica, ou seja, um corpo sonoro e dançante altera de modo profundo a estrutura de nossa consciência, modifica a forma como experimentamos o tempo e o espaço, gerando círculos concêntricos capazes de alterar a realidade. "Quem sabe a dança, vive em Deus", dizia o grande poeta sufista Rumi.

Sabrina Alves
Mestranda em Ciência da Religião, atua como terapeuta unindo as etnomedicinas Ayureda e Andina para a cura da mulher contemporânea.
Docente em ayurveda e eco-espiritualidade feminina, utilizando a metodologia da Cultura de Paz.
Idealizadora e coordenadora do "Clã dos Ciclos Sagrados", trabalho focado na restituição da sacralidade eco-feminina com círculos, rituais, oficinas e atendimentos.
www.cladosciclossagrados.com
cladosciclossagrados@yahoo.com.br
sabrina-iberica@hotmail.com
SÃO PAULO/SP



Fotos: Edição de arte a partir de imagens de arquivo da autora

3 comentários:

  1. oi eu amei mas eu queria sa ber mais era sobre daça do ventre!
    se poder depois coloca viu?

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  2. Olá, Carine

    Em nossa seção "Sensibilização", aqui no ABSOLUTA/ Dança, há 2 ou 3 matérias específicas sobre dança do ventre, confira lá.
    Para aprofundamento maior, faça contato com Simone Alves, professora e focalizadora, autora de uma destas matérias: simone.alves1111@hotmail.com

    Luz e paz, R.

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