Em comunicação física com a liberdade... (pensamentos)






A dança resume num idioma só a multilingüe comunicação da Criação. Dançando, você sabe, seu corpo e seu ser são o universo inteiro num mundo mágico que se cria em você. Você sente o peso dos ossos mas também, a partir deles, vem a transcendência e a liberdade que lhe fazem acessar sua natureza como alma alada que é. Publico alguns trechos interessantes sobre a essência da dança, quando li, gostei e guardei, e sei que você vai gostar também.

RICARDO MARTINS
Editor






O corpo é um ser multilíngue. Ele fala através da cor e da temperatura, do rubor do reconhecimento, do brilho do amor, das cinzas da dor, do calor da excitação, da frieza da falta de convicção. Ele fala através do seu bailado ínfimo e constante, às vezes oscilante, às vezes agitado, às vezes trêmulo. Ele fala com o salto do coração, a queda do ânimo, o vazio no centro e com a esperança que cresce.
O corpo se lembra, os ossos se lembram, as articulações se lembram. Até mesmo o dedo mínimo se lembra. A memória se aloja em imagens e sensações nas próprias células. Como uma esponja cheia de água, em qualquer lugar que a carne seja presssionada, torcida ou até mesmo tocada com leveza, pode jorrar dali uma recordação.
O corpo é um registro vivo de vida transmitida, de vida levada, de esperança de vida e de cura. Seu valor está na capacidade expressiva para registrar reações imediatas, para ter sentimentos profundos, para sentir.
Limitar a beleza e o valor do corpo a qualquer coisa inferior a essa magnificência é forçar o corpo a viver sem seu espírito de direito, sem sua forma legítima, seu direito ao regozijo.
Clarissa Pinkola Estes


O mundo é o esplendor de Deus, um florescimento. Ele tem tanto... O que fazer com isso? Ele compartilha, ele coloca para fora, ele começa a expandir-se, ele começa a criar. Mas lembre-se sempre: ele não é um criador como um pintor que pinta. O pintor está separado da pintura. Se o pintor morrer, a pintura ainda viverá. Deus é um criador como um dançarino: a dança e o dançarino são um. Se o dançarino pára, a dança pára. Quando o dançarino está dançando, ela está ali; quando o dançarino pára, ela desaparece como se nunca tivesse existido.
Osho


De início, a dança é a imagem do jogo rítmico, fonte de todo o movimento do ser; em seguida, libera o homem ilimitado da ilusão de ser um indivíduo aprisionado nas fronteiras de sua pele: seu corpo e seu ser são o universo inteiro; finalmente, o “lugar” da dança, o centro do universo, está no coração de todos os homens.
Ananda Coomaraswamy



Devemos considerar como perdido todo o dia que não tivermos dançado pelo menos uma vez.
Nietzsche


A liberdade ofende. Mulher de olhos brilhantes, é inimiga declarada da escola, do matrimônio, da dança clássica e de tudo que aprisione o vento.
Ela dança porque dançando goza, dança o que quer, quando quer e como quer.
E as orquestras se calam frente à música que nasce de seu corpo.
Galeano


Na vida, como na dança, a graça desliza sob pés machucados.
Martha Graham


Dançar é lutar contra tudo que retém, tudo que sepulta, pesa e agoniza.
É entrar em comunicação física com a liberdade.
É descobrir com o corpo a essência da vida.
Dançar é praticar a arte sagrada.
Jean Louis Barrault


Eu louvo a dança, pois ela liberta o ser humano do peso das coisas - une o solitário à comunidade. Eu louvo a dança, que tudo pede e tudo promove; saúde, mente clara e uma alma alada. Dança é a transformação do espaço, do tempo e do ser humano, este constantemente em perigo de fragmentar-se, tornando-se somente cérebro, vontade ou sofrimento. A dança, ao contrário, pede o homem inteiro, ancorado no seu centro. A dança pede o homem liberto, vibrando em equilíbrio com todas as forças! Eu louvo a dança! Ser humano, aprenda a dançar! Senão os anjos do céu não saberão o que fazer de você.
Santo Agostinho


Um dia, veio à corte do Príncipe de Birkasha, uma dançarina e seus músicos. ...e ela foi aceita na corte...e ela dançou a música da flauta, da cítara e do alaúde.
Ela dançou a dança das chamas e do fogo, a dança das espadas e das lanças; e ela dançou a dança das flores ao vento.
Ao terminar, virou-se para o príncipe e fez uma reverência. Ele então, pediu-lhe que viesse mais perto e perguntou-lhe: 'Linda mulher, filha da graça e do encantamento, de onde vem tua arte e como é que comandas todos os elementos em seus ritmos e versos?'
A dançarina aproximou-se, e curvando-se diante do príncipe disse: 'Majestade, respostas eu não tenho às vossas perguntas. Somente isso eu sei: a alma do filósofo vive em sua cabeça, a alma do poeta vive em seu coração, a alma do cantor vive em sua garganta, mas a alma da dançarina habita em todo o seu corpo.
Khalil Gibran
Fotos: Getty Images (topo) e Nathália Lisiê, bailarina de clássico, jazz e contemporâneo (embaixo)

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