A dança nos desnuda e abre ao mundo

Ao longo da vida, nossas mágoas se acumulam não apenas na alma mas também no corpo, criando couraças, tumores. Por séculos, o Feminino carregou em seus quadris o peso de repressões e culpas, mutilando, encolhendo e esquecendo sua verdade.
Mas o reencontro com seu sagrado e sua força mais essencial é um chamado que se aproxima crescentemente da mulher moderna, e se constitui numa chave definitivamente transformadora. Um dos meios mais eficientes e agradáveis dessa transição é a dança, como nos conta a experiente dançarina e professora Shakty Shala. "A dança nos desnuda e abre ao mundo, nos conforta e ampara, pois é livre de dogmas e de mentiras", afirma. Acompanhe.


Durante a vida, passamos por tristes situações que não julgamos tão importantes assim, nem percebemos seu efeito sobre nós. Mas, com o tempo, elas se acumulam no corpo, na alma, e ficam estagnadas, criando couraças, tumores.
Ao longo de muitos anos, o feminino acumulou muitos males e carregou em seus quadris o peso de repressões e culpas, se escondendo, mutilando, encolhendo, submetendo e esquecendo sua verdade.
É o momento de indagar: o que escondo, engulo e quem sou. Você lembra quem é?!

Será que toda força e poder do feminino foram queimados na fogueira? Comprimidos entre espartilhos? Encoberto por burkas ou mutilado? Ocultado atrás de implantes de silicones e plásticas? A força e o poder, necessários para nos livrar deste tributo, habitam em nós, mas precisamos de uma outra força impulsionadora que pode surgir de muitas maneiras em nossa vida: como um insight, um sonho, o convite de uma amiga, uma revolta contra o sistema, uma perda trágica, entre tantas outras possibilidades.

Mas, em algum momento de nosso confuso e caótico cotidiano, esse fator desencadeante se apresenta, e pode causar grandes transformações, mudar nossa perspectiva e abrir inúmeros caminhos.
Só então nos deparamos com quem somos, ou com o grande vazio de não mais reconhecer a si mesma; ou ao sagrado dentro de nós e a necessidade de vivê-lo; o quanto esse corpo nos é tão útil, mesmo não sendo tudo o que os outros esperam dele. Mas, ainda assim, é meu corpo, e é esse corpo que carrega os filhos no ventre, os alimenta, dá prazer ao meu amante, se renova todo mês e me conecta com o poder da Lua, esse corpo me proporciona ser quem sou, ele me liga ao mundo e me comunica com o todo.
Quando nos permitimos reconquistar esse feminino, que sente, se manifesta, sofre, ama, cuida, provém, sonha, se interioriza, e cria, também libertamos os homens, e permitimos a eles o direito de reconquistar o seu feminino sagrado, no qual é possível sentir, chorar, amar e sonhar, sem ser julgado - tornando muito mais harmônica e construtiva a vida de casal. Também voltamos o olhar para a Terra e vemos a necessidade de cuidar do mundo, tendo mais amor e cuidado com os animais e a natureza.

Algo além do entretenimento - Uma das formas mais prazerosas e tranqüilas de descobrir e fazer essa transição é através da dança. A dança nos desnuda e abre ao mundo, nos conforta e ampara, pois é livre de dogmas e de mentiras.
Desenvolvo um trabalho com grupos de mulheres que busca na dança algo além do entretenimento: busca o sentido pessoal da dança, a expressão dos sentimentos, os arquétipos do universo que nela podem se manifestar para serem trabalhados.
As danças ritualísticas e ancestrais - e suas melodias - trazem intrinsecamente um grande poder de nos mover no tempo e mexer com emoções aprisionadas. Associadas a nossos chakras e seus elementos, podem romper barreiras corporais e psíquicas, fazendo a energia fluir de novo dentro de nós, sem obstáculos, em uma conexão entre o sentir e o ser que atinge o equilíbrio.

Trabalhando em grupo, as trocas são constantes, as mulheres que compartilham do mesmo processo se conhecem, se compreendem e se respeitam, mudando sua forma de olhar as outras e rompendo julgamentos e desrespeitos com outras mulheres - ato machista que ainda cometemos atualmente.

Através de leituras, debates e explanações sobre textos ligados ao Feminino, e seu sagrado mitológico, descobrimos mais sobre nós e tudo que permeia nosso universo e inconsciente coletivo. Ao entrar em contato com as Deusas interiorizadas, descobrimos que todas somos faces da Deusa em suas infinitas manifestações.
Este trabalho mescla fusões de diversas danças canalizadas para harmonização e cura do Ser, a retirada de couraças e amarras do corpo e da alma. Para resgatar o trabalho manual, os próprios figurinos são tecidos e criados por nós.
Ao trabalhar com um grupo de mulheres em São Paulo, e outro desde 2004 no Rio, percebo que, uma vez aberta a caixa de Pandora, o caminho segue continuamente. Acompanhei muitas mudanças e descobertas, processos de desconstrução e reconstrução, dolorosos ou não, eles simplesmente acontecem quando as alunas optam por esta busca individual para encontrar seu eu perdido.
Este trabalho busca o despertar do divino em cada mulher, criando e reconhecendo a dimensão sagrada inserida no cotidiano, buscando o equilíbrio e autoconhecimento, fortalecendo os aspectos femininos em nosso Ser, através do conhecimento corpóreo, emocional e espiritual, harmonizando nosso Ser em comunhão com a Terra.

Gleice Lemos Frioli (Shakty Shala)
Dedica-se ao estudo de danças há 25 anos, e dança oriental há 14 anos, e é criadora do trabalho Dança do Sagrado Feminino. Estuda o sagrado feminino desde 1994 e aplica-o em suas aulas e danças. Seu trabalho é direcionado ao fusionamento de danças com dança oriental, explorando o universo dessa arte através dos arquétipos femininos para promover o encontro da totalidade do feminino com seu corpo em suas mais amplas expressões. Atua no Rio de Janeiro e São Paulo.
www.dancadosagradofeminino.com
shaktyshala@gmail.com

RIO DE JANEIRO/RJ

Fotos: Arquivo pessoal

Um comentário:

  1. Conheço a Shakty há tempos e ela é maravilhosa!!! Q saudades...
    Parabéns pelas matérias...Fiquei fâ!
    Bjos - Flavinha Piazzi
    Baiularina e professora de dança do ventre - Tatuí/SP.

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